5 de março de 2012

PARAÍBA TEM APENAS 4 MIL PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO

Nacional - De acordo com a Associação de Deficientes e Familiares (Asdef), João Pessoa possui mais de 100 mil pessoas com algum tipo de deficiência. Na Paraíba, existem pouco mais de quatro mil deficientes contratados. Se as empresas cumprissem a lei de cotas, seriam mais de 15 mil contratados no Estado. A lei 8.213 de 1991determina cotas de contratação nas empresas. No artigo 93, fica definido que a empresa com 100 ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas com deficiência.
Apesar disso, depois de passar três anos procurando emprego, de 2008 até o ano passado, Talita pereira de Lima, 25 anos, conseguiu a vaga de vendedora em uma livraria de um shopping em João Pessoa. A jovem que tem deficiência visual, apresentando  baixa visão, teve seu primeiro emprego aos 19 anos, e desde então, nunca quis parar de ganhar o próprio dinheiro para ajudar nas despesas de casa, onde mora, em Santa Rita, com a família.

Segundo os dados do censo 2010 do IBGE, a Paraíba é o segundo Estado do país com o menor índice de cumprimento da lei, apresentando 4%, ficando atrás apenas de Santa Catarina, que possui 3,4%. A média de cumprimento da lei no país é de 17,9%. O índice é calculado a partir da estimativa de vagas que empresas com cem ou mais empregados deveriam criar e do total de deficientes incluídos no mercado de trabalho por força de ação fiscal. Os Estados com maior índice de cumprimento são Ceará e São Paulo, com respectivamente 42,3% e 41,8%.

O censo 2010 ainda revelou que 23,92% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, enquanto a população nordestina atinge a marca de 26,63%. Segundo o ranking dessa mesma população por estados, a Paraíba é o segundo Estado brasileiro com a maior população de pessoas com algum tipo de deficiência, com uma taxa de 27,76%, sendo o Rio Grande do Norte o primeiro lugar, com um percentual de 27,86%.

Ainda na Paraíba, o mercado de trabalho ainda se configura mais escasso para os deficientes visuais, embora estes apresentem maior nível educacional entre os deficientes. Além disso, os empresários do Estado ainda vêem a contratação de deficientes como sinônimo de prejuízo ou baixa produção. Apesar disso, a Funad encamainhou o maior número de deficientes ao mercado de trabalho em cinco anos. Foram 184 carteiras de trabalho assinadas no ano passado; maior marca desde 2007.

Lidando com a rejeição

Em seu último trabalho, Talita Pereira passou dois anos e 10 meses em uma empresa de confecções. Ao retornar das férias, a jovem foi surpreendida e recebeu sua demissão. “Acho que por ter desenvolvido tendinite foi um dos motivos que estimularam a minha demissão da empresa, embora tenham justificado que o serviço que eu desempenhava não estava mais sendo necessário”, revelou.

Ela contou que depois desse episódio, em 2008, passou a distribuir currículos aos montes, mas durante três anos, ficou sem emprego passando por diversas experiências desgastantes como candidata a vagas que nunca eram preecnhidas.

Falta adaptação das empresas

Segundo o chefe de colocação profissional da Fundação Nacional de Apoio ao Deficiente (Funad), Gilvan Anísio, outra dificuldade enfrentada pelas pessoas com deficiência é a de que as empresas não adaptam nada às suas necessidades. Adaptar cadeiras, máquinas, móveis e ferramentas de trabalho ainda é visto por muitos empresários como algo dispendioso e que gera prejuízos.

Às vezes, as modificações são tão mínimas, como as de um deficiente físico que precisa sentar durante o período de trabalho. Muitos empregadores entendem essa necessidade como desleixo e não observam que, se o empregado precisa estar sentado para ter melhor conforto laborativo, o trabalho será mais rentável caso suas necessidades ejam atendidas.

“Já passamos por uma situação com uma deficiente que tinha problemas na perna direita. Ela tinha que manusear uma máquina com um pedal que se encontrava no local do pé direito, porém, ela era obrigada a mover a perna esquerda para o lado direito para conseguir, com o pé esquerdo, controlar o pedal. Era uma situação de desconforto imensa”, ressaltou Gilvan Anísio.

“Falta sensibilidade dos empregadores e o estímulo às pequenas e simples modificações. As empresas devem enxergar que podem ser produtivas e primarem pela humanização e garantia da mínima cidadania e dignidade de seus colaboradores”, acrescentou.

Dificuldades

Para o presidente da Asdef, Francisco Izidoro, as principais dificuldades enfrentadas pelos portadores de deficiência que querem uma vaga no mercado são a falta de compromisso dos empregadores em cumprir a lei de cotas, o baixo grau de escolaridade das pessoas com deficiência e a falta de uma qualificação adequada.

“Além disso, as pessoas com deficiência enfrentam ainda condições inadequadas de acessibilidade e ergonometria das empresas e a contratação para desempenhar funções incompatíveis com a deficiência ou com sua qualificação”, acrescentou Francisco Izidoro.

Segundo ele, a Asdef chega a encaminhar de cinco a seis pessoas por mês para uma vaga e as empresas não contratam nenhum. “As empresas ainda alegam que não encontraram candidatos interessados. Muitas empresas só querem contratar pessoas com deficiência leve, mínima, quase imperceptível”, informou.

Para a deficiente visual, Talita Pereira, os deficientes ainda passam por situações complicadas ao procurar emprego, porque, por mais que você tenha capacidade para uma vaga, os agenciadores nunca percebem ou não querem ver isso.

Sine-PB tem 6 vagas para deficientes

Segundo a Articuladora Empresarial do Setor de Captação do Sistema Nacional de Empregos da Paraíba (Sine-PB), em João Pessoa, Rita Rocha, surgem, em média, três empregos por mês para deficientes na Capital.  Para esta semana, há seis vagas disponíveis, quatro para auxiliar de linha de produção, uma para auxiliar de depósitos e outra para serviços gerais.

De acordo com Rita Rocha, 14 empresas estão em uma lista entre as que mais ofertam vagas a esse público na Paraíba: Brastex, Copobrás, Colégio Geo, Cerâmica Elizabeth, Carrefour, Farmácias Pague Menos, Gerdau, Gráfica Santa Marta, HC Pneus, Intermédica, Interprint, Lojas Renner, Macro e Valid. Além destas, a Sedh também possui outra lista com cerca de 80 empresas que participam da política da lei de cotas.

“Os salários mais praticados estão entre o mínimo e o comercial. No entanto, isso depende do tipo de contrato e negociação realizados com a empresa. Geralmente, a carga horária vai de 4 a 6 horas”, informou Rita Rocha.

Uma procura incessante

“Entre 2008 e 2009 cheguei a entregar 30 currículos com o meu cunhado, que também distribuiu cinco dele. Acabei não  sendo convocada para nenuma seleção, enquanto ele foi chamado para duas entrevistas. Fiquei muito triste porque pude vivenciar a rejeição só por causa da miha deficiência. Meu cunhado acabou assumindo uma vaga e meses depois abandonou a oportunidade que poderia ter sido minha naquele momento”, relembrou Talita Pereira.

Talita Pereira ainda ressaltou que sempre cultivou o hábito de enviar currículos e que é muito interessada em cursos de qualificação e capacitação. “Perserverança. Foi assim que eu sempre consegui chegar onde quero. Nosso segredo é ter sempre mais resistência para superar as dificuldades que enfrentamos. O que eu mais faço no meu dia a dia é me adaptar, mas acho que nunca devemos esperar que o mundo se adapte a nós. Embora a sociedade ainda não esteja adaptada à convivência com os deficientes, temos que superar essas barreiras e continuar lutando. Hoje, as pessoas reconhecem meu trabalho e é disso que construo minha dignidade”, argumentou Talita Pereira.

“Minha dica para todos os deficientes é que não podemos nos acomodar, porque deficiência física, qualquer cidadão está sujeito a ter, mas procurar se destacar, estudar bastante e investir em capacitação indicam caminhos mais direcionados ao mercado de trabalho”, aconselhou.

Falta humanização por parte de empresas

Para Gilvan Anísio, o costume de diferenciar qual tipo de trabalho melhor se encaixa para qual tipo de deficiência é a mesma coisa que perguntar a alguém sem deficiência qual seria o melhor trabalho para ele. “A resposta seria sempre: o que melhor paga”, enfatizou. Ele alertouq ue as experiências no mercado falam por si sós. Os empregadores se surpreendem com a capacidade dos colaboradores deficientes ao perceberem a qualidade do trabalho oferecido. “Infelizmente, o preconceito ainda prevalece”, lastimou.

Índice em 5 anos

De acordo com o chefe de colocação profissional da Fundação Nacional de Apoio ao Deficiente (Funad), Gilvan Anísio, ano passado, foram inseridos 184 pessoas com deficiência no mercado de trabalho na Região Metropolitana de João Pessoa. Desde 2007, este é o maior índice já alcançado no número de encaminhamentos com carteira assinada. Gilvan é deficiente visual e trabalha há 25 anos na Funad.

Gilvan Anísio explicou que a Funad mantem um Banco de Empregos em que qualquer deficiente pode se cadastrar e concorrer a vagas no mercado de trabalho. Após o cadastro, o deficiente tem que passar por um laudo médico para comprovar a sua situação. Após isso, os currículos são enviados às empresas quando surgem as demandas e os perfís se encaixam nos pedidos solicitados à Funad.

De acordo com ele, a maioria dos cadastrados no Banco de Dados da Funad possui Ensino Fundamental incompleto, embora os cadastros sejam abertos para deficientes analfabetos a universitários. Em média, cercade 200 empresas, entre as da capital e de Campina Grande, participam da política de oferta de empregos a PcD.

Fonte: Correio da Paraíba

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